segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Turismo desordenado ameaça Costa dos Corais

Ambientalistas alertam para a degradação do ambiente e sumiço da fauna marinha ao longo dos litorais de AL e PE

Fonte: Mário Lima/ Gazeta de Alagoas


A fauna marinha existente na região onde mais cresce o turismo de aventura no Nordeste diminuiu assustadoramente nos últimos anos. A constatação é do biólogo Fernando Acioly, gerente da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, uma das maiores regiões de corais marinhos da América Latina, localizada entre os rios Meirim, em Ipioca, distrito de Maceió, e Formoso, em Tamandaré, litoral pernambucano. Um dos responsáveis pela degradação é a explosão do turismo nessa APA, criada por decreto federal, em 1997, com 413 mil hectares, e que abrange nove municípios de Alagoas e quatro de Pernambuco.


Em 2002, essa região recebia 56 mil turistas; este ano, de acordo com Acioly, devem aportar na região mais 100 mil visitantes nos dois estados. Por outro lado, o turismo nessa área sustenta milhares de pescadores e o comércio, que gira na região e traz emprego e desenvolvimento.

Pressão

A situação chegou ao ponto de pescadores fecharem o acesso às piscinas naturais de Maragogi – a seis quilômetros da costa – na Quarta-Feira de Cinzas, em protesto contra a Capitania dos Portos, que vem notificando embarcações que levam turistas até as famosas piscinas naturais das Galés, por fazerem transporte irregular de banhistas e mergulhadores.

O clima de disputa pelos reais e dólares dos turistas ficou tão acirrado entre pescadores e proprietários de catamarãs – que oficialmente fazem o transporte – que os órgãos ambientais decidiram fechar uma área do banco de corais, por meio de um termo de ajuste de conduta.

“Hoje a situação é grave”, diz Acioly. “Além da degradação ambiental, ainda temos o aumento do número de embarcações, que vão desde catamarãs até pequenos barcos de pesca. Em conjunto com os usuários, vamos delimitar uma nova área para banho e passeio e outra será fechada ao público”. Ele lembra que em Paripueira já existe uma delimitação de área para o turismo, e em Tamandaré (PE), uma área inteira foi fechada. “É melhor o diálogo do que fecharmos a área por decreto, como ocorreu em Tamandaré”, assinala Acioly.

Ainda de acordo com o biólogo, o número de turistas na APA está crescendo num percentual de 30% ao ano. Em 2002, foi feito um termo de ajuste de conduta, mas de nada valeu: os impactos continuaram e o número de embarcações na área também aumentou. Um novo termo está sendo elaborado, em conjunto com todos os usuários, para delimitar uma nova área para banhistas e passeios, e outra será fechada ao público.

Produção

“Esse movimento de turismo afeta principalmente a produção de peixes. Precisamos retomar as medidas de ordenamento, com esforço de todos os que protegem e dos que usam”, afirma Leonardo Messias, oceanógrafo do projeto Recifes Costeiros, da Universidade Federal de Pernambuco, Ibama e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A APA Costa dos Corais foi criada por decreto presidencial em 1997 e abrange quatro municípios de Pernambuco (Rio Formoso, Tamandaré, Barreiros e São José da Coroa Grande) e nove de Alagoas (Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Passo do Camaragibe, São Luiz do Quitunde, Barra de Santo Antônio, Paripueira e Maceió) num total de 413 mil hectares.

Sua finalidade é preservar recifes, manguezais, o peixe-boi e todo o ecossistema marinho, além de ordenar o turismo ecológico. Ao contrário de parques e reservas ecológicas, as áreas de proteção ambiental são unidades de conservação de uso sustentável. Isso significa que dentro dos seus limites é permitida a prática de atividades agrícolas, pesca e turismo, desde que não causem danos ao meio ambiente.